#BeerWeek – O que está acontecendo no mercado cervejeiro? Entenda o panorama atual
Para iniciar nossa BeerWeek, vamos entender o que está acontecendo no mercado, quais os últimos acontecimentos e como eles influenciam os negócios cervejeiros, seja na indústria ou na ponta, com os bares e restaurantes.
Para analisar essa situação e nos debruçarmos sobre os panoramas atuais, conversamos com Oscar Freitas Jr, Sommelier da Königsbier e presidente da Acerva Catarinense.
Mas, antes é importante se situar no contexto atual!
O que vem acontecendo?
Reestruturação da Saint Bier, recuperação judicial do grupo Petrópolis, possível fechamento da Anchor Brewing e venda de cervejarias artesanais de volta para seus fundadores nos EUA. Estas notícias permearam o mundo cervejeiro só em 2023.
Além disso, o setor de Alimentação Fora do Lar continua um dos setores que mais geram empregos no Brasil, refletindo a resiliência e a força de empreendedores que buscam um retorno estável depois de um dos fenômenos mais marcantes dos últimos anos: a pandemia.
Nesse mesmo contexto, há ainda mudanças de comportamento do consumidor. Marcas premium sendo exploradas, micro cervejarias buscando e conquistando seu espaço, cerveja sem álcool chegando cada vez mais nas geladeiras dos brasileiros.
Mas, como se configura o cenário atual?
O Brasil é uma nação cervejeira, seja pela paixão ou seja pelo mercado. Terceiro produtor mundial de cerveja, o país vê o setor crescer a cada ano, mesmo em meio aos últimos acontecimentos.
Dados do Anuário da Cerveja do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) revelaram que em 2022 houve um aumento de 11,6% no número de cervejarias registradas. Mantendo praticamente a taxa de crescimento de 2021, que foi de 12%. Atualmente são 1729 cervejarias registradas no país.
O maior “boom” do setor ocorreu em 2016, com um aumento de 48,5%: de 332 estabelecimentos em 2015, foi para 493 em 2016. Depois disso, nenhum ano teve um crescimento tão expressivo, ainda que o número de cervejarias só aumentasse.
Dentro deste mercado, há três grandes players: Ambev, Heineken e o Grupo Petrópolis. Em março deste ano, o Grupo Petrópolis (dona de marcas como Itaipava e Petra) fez um pedido de recuperação judicial para manter suas operações. Segundo a Forbes, as dívidas da companhia somavam-se em R$4,2 bilhões.
Na época, essas movimentações geraram um impacto positivo (imediato e a curto prazo) nas ações da Ambev. Especialistas também especulam uma maior competitividade entre a Ambev e a Heineken.
Agora, quando falamos em cervejarias artesanais, elas ocupam cerca de 2 a 3% deste mercado, ainda que as fábricas sejam a maioria no país.
Gilberto Tarantino, presidente da Abracerva, em declaração publicada no portal Mercado e Consumo, diz que 97% das fábricas são micro, pequenas e médias cervejarias. O que revela a importância do segmento dentro do setor.
Mercado cervejeiro em meio ao pós pandemia
Oscar Freitas Jr, Sommelier da Königsbier e presidente da Acerva Catarinense, avalia que todo o mercado passa por uma reformulação, ainda influenciada pela pandemia.
“A pandemia acelerou alguns processos que dificultaram o cenário, como as altas de insumos, das taxas de juros, do dólar, e o frete, que também foi um fator muito considerável”, explica.
Oscar acredita que há uma mudança no sentido de pensamento sobre o mercado artesanal e reforça que o crescimento do setor é impulsionado por uma característica de identidade com sua região.
“Desde que eu comecei, eu percebo que o que fortalece de fato a cerveja artesanal é que ela carrega uma identidade regional naquele seu espaço. Claro, fora da sua região ela vai ter uma ressonância, mas provavelmente encontrará uma dificuldade maior para ter uma grande tangência.”
Segundo ele, cervejarias como a Heineken e a Ambev conseguem ter esse rastro mais facilmente, principalmente por conta da logística e da grande estrutura. Ele também vê como uma questão de DNA do negócio.
Entretanto, é evidente o interesse das grandes empresas pelo ramo artesanal, o que mostra suas potencialidades.
Na visão de Oscar, a aquisição de cervejarias artesanais pelos grandes players é justamente com a intenção de absorver as oportunidades desse tipo de mercado e surfar na onda que vem acontecendo.
“A Ambev absorveu muito dessa cultura das cervejas artesanais, eles compraram cervejarias de renome do mercado como a Wäls, fizeram a aceleração da Lohn Bier. Mas, por exemplo, eu percebi que a aceleração da Lohn Bier foi algo, sem meter muito o pé, no estilo ‘eu vou ali, mas não vou’”, analisa Oscar.
Outra movimentação que também chamou atenção neste ano foi a venda de cervejarias artesanais dos EUA de volta para seus fundadores. A Funky Buddha e a Four Corners Brewing foram dois casos. Oscar também vê isso como uma questão de DNA.
“Não está no DNA deles fazer isso, ser uma cervejaria artesanal, regional. Até porque na essência eles não fazem de fato uma cerveja disruptiva. Os grandes players são tudo o que nós cervejeiros caseiros e artesanais não buscamos. Não queremos essa massividade, procuramos diversidade de sabores e receitas”, declara.
Amadurecimento do mercado e os desafios
Oscar acredita que para o sustento do negócio não se pode deixar de lado os conhecimentos em gestão, para isso a pessoa precisa ser, além de um bom cervejeiro, um bom gestor.
“A verdade é que o mercado vem amadurecendo cada vez mais e hoje se encontra em um local de bastante profissionalismo e inovação. Só que há algumas barreiras para a expansão dos negócios e uma delas é a carga tributária e a forma como a cerveja é vista no Brasil”, diz.
Ele explica que a cerveja artesanal no Brasil reflete as formas e visões do mercado dos EUA. Segundo Oscar, lá a cerveja é também vista com certos estigmas relacionados a um determinado comportamento.
Nesse sentido, para ele há uma necessidade de o setor ser visto cada vez mais como parte de uma cultura genuína, superando a estigmatização de pessoas que buscam apenas o consumo de álcool.
“Visto apenas como mais uma bebida alcoólica, há uma série de limitações principalmente relacionada aos impostos. As taxas prejudicam particularmente os pequenos negócios, uma vez que esses impostos são os mesmos tanto para as grandes quanto para as pequenas cervejarias. O que acaba sendo desumano para o empreendedor.”
Apesar dos desafios, ele acredita ser um mercado bastante promissor e que possui espaço para investimentos, especialmente devido à mudança de comportamento das pessoas, que têm procurado por diferentes sabores e cervejas.
No entanto, destaca a necessidade de avançar na conquista de novos públicos e perfis de consumidores, rompendo as barreiras sociais e alcançando uma maior diversidade na base consumidora.
“Ainda estamos muito na classe média e não conseguimos alcançar outras classes sociais. Eu vejo ainda que as cervejas artesanais não chegam lá nos bairros e botequins, onde deveria estar. Claro que há uma questão de preços. Para isso, o mercado cervejeiro como um todo poderia realizar ações para popularizar e democratizar a cultura cervejeira artesanal, mas isso requer investimentos e uma mudança de perspectiva do Estado em relação ao setor”, comenta.
Otimismo de mercado
Uma pesquisa do Guia da Cerveja lançada em abril deste ano revelou que das 100 cervejarias entrevistadas, 46% não obtiveram lucro, contra 54% que obtiveram.
Apesar de entender as dificuldades e problemáticas do setor, como a carga tributária e falta de incentivo, Oscar avalia com bons olhos a performance do mercado.
“Eu acredito que estamos colhendo e construindo um bom cenário, tendo em vista que passamos por uma pandemia e ainda estamos nos recuperando. Um mercado não se ajusta de um ano para outro”, analisa.
Ele reforça que, atualmente, nota-se um avanço em vários sentidos, como por exemplo maior profissionalização.
“Se antes tínhamos pessoas que faziam cerveja em panelas e as vendiam, hoje temos cada vez mais empreendedores bem preparados, com formação em gestão de negócios. Há também uma diversidade de escolas cervejeiras bastante interessantes no país.”
O Beer Sommelier ainda relata como ponto forte o fato do mercado cervejeiro ser um ambiente colaborativo. E avalia que essa colaboração é fundamental para que as cervejarias passem por essas turbulências do setor.
“O número de pessoas qualificadas está aumentando e o mercado conversa melhor. Uma coisa que eu acho muito interessante - por mais que uma parte das pessoas ache que não - é que é um mercado muito colaborativo, de troca de ideias e querendo ou não, não há como ter um mercado artesanal fortalecido sem colaboração”, concluiu Oscar.
A BeerWeek vai até o dia 4 de agosto. Não perca nenhum conteúdo! Siga a gente nas nossas redes sociais e se inscreva!