BeerWeek Cervejarias artesanais e multinacionais: possibilidades e mercado

BeerWeek – Cervejarias artesanais e multinacionais: possibilidades e mercado

#2 BeerWeek - Cervejarias artesanais e multinacionais: possibilidades e mercado

Entenda a relação entre as cervejarias artesanais e as grandes indústrias, assim como desafios e estratégias para prosperar mercado cervejeiro brasileiro

O Brasil possui atualmente 1847 cervejarias registradas, de acordo com dados recentes do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Esse número, ainda crescente, reflete o potencial da produção cervejeira nacional. No entanto, o setor passa por expressivas mudanças, tanto no campo das cervejarias artesanais quanto das multinacionais. 

 

Mas, como é vista a relação entre esses dois grandes expoentes do mercado? De que maneira se analisa a dinâmica entre cervejarias artesanais e multinacionais?

 

Para o segundo dia da nossa BeerWeek, continuamos a conversa com o Gilberto Tarantino, presidente da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), da Câmara Setorial da Cerveja do Ministério da Agricultura e Pecuária, e sócio da Cervejaria Tarantino. Desta vez, ele compartilhou suas reflexões sobre o cenário atual e os desafios enfrentados pelas cervejas artesanais.

Cervejarias artesanais e multinacionais: dinâmicas de mercado

A cerveja é uma paixão nacional, esta é uma frase que se ouve muito, e não é à toa! O Brasil é um dos maiores produtores de cerveja do mundo. O Anuário do Mapa revelou que, em 2023, a produção nacional superou os 15 bilhões de litros de cerveja e conta com mais de 60 mil marcas de cerveja registradas. Sem falar que, segundo o mesmo levantamento, o setor de bebidas ultrapassou os 130 mil empregos diretos, sublinhando sua importância econômica e cultural.

 

No mercado brasileiro, três grandes players dominam: Ambev, Heineken e Grupo Petrópolis, este último se recuperando de um pedido de recuperação judicial. Dentro desse contexto há as cervejarias artesanais, que estão presentes em todas as regiões do país.

 

Apesar disso, a dinâmica é complexa. Temos um cenário onde as grandes empresas ocupam a maior parte do mercado, enquanto as artesanais se destacam por sua contribuição à cultura cervejeira e seu impacto regional. Como então que as artesanais podem buscar seu espaço e potencializar o seu valor?

Uma visão estratégica de setor

A cerveja é uma paixão nacional, esta é uma frase que se ouve muito, e não é à toa! O Brasil é um dos maiores produtores de cerveja do mundo. O Anuário do Mapa revelou que, em 2023, a produção nacional superou os 15 bilhões de litros de cerveja e conta com mais de 60 mil marcas de cerveja registradas. Sem falar que, segundo o mesmo levantamento, o setor de bebidas ultrapassou os 130 mil empregos diretos, sublinhando sua importância econômica e cultural.

 

No mercado brasileiro, três grandes players dominam: Ambev, Heineken e Grupo Petrópolis, este último se recuperando de um pedido de recuperação judicial. Dentro desse contexto há as cervejarias artesanais, que estão presentes em todas as regiões do país.

 

Apesar disso, a dinâmica é complexa. Temos um cenário onde as grandes empresas ocupam a maior parte do mercado, enquanto as artesanais se destacam por sua contribuição à cultura cervejeira e seu impacto regional. Como então que as artesanais podem buscar seu espaço e potencializar o seu valor?

Uma visão estratégica de setor

Tarantino faz importantes reflexões a respeito. Para ele, a “briga” entre cervejarias artesanais e as grandes precisa ser vista de outro modo: a partir de uma visão estratégica de setor, de segmento. 

 

Estou há 16 anos no mercado, quando eu comecei eu também dava muita pedrada nas grandes. Mas assim, o mercado vai acontecendo e você vai vendo que há a necessidade de uma visão estratégica. Brigar com as grandes é uma luta perdida, essas empresas são muito estruturadas”, explica.

 

Ele destaca que as grandes empresas possuem um poder de negociação superior, especialmente devido ao volume de produção. “Por exemplo, sou sócio da Cervejaria Tarantino, quando compro latas para minha cervejaria, pago um valor mais alto porque não compro em grande escala. Já as grandes indústrias compram em volumes muito maiores, obtendo melhores condições", exemplifica.

 

Esse exemplo das latas ilustra uma realidade que se estende a todo o funcionamento das operações, impactando diretamente o preço final dos produtos. Segundo Tarantino, isso é positivo quando se olha da perspectiva do consumidor final, pois podem encontrar cervejas diferenciadas, como uma IPA, a preços mais acessíveis. 

 

Ao mesmo tempo, ele entende que as artesanais conquistam por outros meios.

“A gente sabe que as nossas cervejas, principalmente as não pasteurizadas, entregam outras experiências sensoriais para os consumidores.”

Desde que assumiu a presidência da Abracerva, Tarantino tem buscado alinhar o trabalho da associação com grandes empresas do setor, inspirado por um conselho do presidente da Brewer's Association, a maior associação de cervejarias do mundo.

 

“Até hoje, Ambev, Heineken e outras grandes são associadas à Brewer's Association e têm vários projetos em conjunto. Talvez aqui no Brasil isso não seja bem comunicado.  É claro que a gente luta e promove as pequenas cervejarias, mas eu não vejo como a gente ter todo esse cuidado se não estiver alinhado com as grandes. Eu vejo como setor.” 

Caminhos para as Artesanais

Tarantino enfatiza que as cervejarias artesanais precisam estar estrategicamente posicionadas no mercado, escolhendo caminhos que se adequem ao seu modelo de negócio. Por exemplo, vender em supermercados pode ser desafiador para pequenas cervejarias devido às exigências e custos envolvidos, como reposição de mercadorias e possíveis multas contratuais.

“A cervejaria artesanal que acha que vai vender em supermercado, ou o cara tem uma grande produção ou ele vai quebrar a cara. Já vi muitos colegas enfrentarem dificuldades. Estou nesse setor há algum tempo e, eu mesmo com a minha cervejaria, tive experiências difíceis com grandes redes de varejo”, relata.

Como alternativa, ele sugere a abertura de Brewpubs, onde os empreendedores podem vender diretamente ao consumidor, reduzindo custos de impostos, logística e distribuidores. "Daí sim, nos Brewpubs, você vai ter liberdade para criar cervejas fantásticas, com receitas diferentes em lotes pequenos."

 

Um Brewpub é um estabelecimento em que se vende e produz a cerveja no mesmo lugar. Ou seja, abre-se um bar na própria fábrica. Dentro desse negócio também é possível incluir uma cozinha e unir cerveja e gastronomia.

“Ser unido para brigar no que a gente pode brigar”

O Anuário do Mapa mostra que ano após ano o número de cervejarias aumenta. O maior boom de crescimento foi o ano de 2016, onde de 493 cervejarias, foram para 679 registradas em 2017. Esse número representou um crescimento de 48,5%. Depois deste período, a taxa de crescimento foi se atenuando.

 

Os dados mais recentes mostram que o crescimento de 2021 para 2022 foi de 11,6% e de 2022 para 2023 foi de 6,8%. "Naquela época [2016], realmente houve um boom. Acho que não só o interesse das pessoas cresceu, mas também os produtores e importadores de equipamentos e insumos estavam preparados para atender a demanda.”

 

Apesar dessa diminuição da taxa de crescimento, Tarantino ainda avalia como números positivos. “Eu considero isso ótimo; na economia, um crescimento de 7% ao ano é bastante positivo. Não é mais os 48% que vimos antes, mas é um número mais pé no chão. Hoje, temos 1847 cervejarias, e quando comecei em 2008, eram apenas 94. Em 2014, dez anos atrás, esse número era de 257, e hoje são 1847. Isso é significativo e chama a atenção do mundo todo."

 

Para ele ainda existe um grande potencial de crescimento no país, mas ressalta as necessidades para se manter um negócio, como por exemplo a gestão financeira. “Ao abrir um negócio, sabemos que existem muitos desafios, sendo o primeiro os impostos e o segundo a gestão. As cervejarias artesanais precisam ter um business plan”

 

Também é necessário considerar aspectos como, impostos, encargos trabalhistas e a existência das grandes empresas. “Quando se abre uma cervejaria, a maioria das pessoas já está ciente da presença de grandes players como Heineken e Ambev, né? Eu quero dizer isso porque a gente tem que ser unido para brigar no que a gente pode brigar.

 

Dentro das discussões da reforma tributária, por exemplo, Tarantino explica que quando vai à Brasília se fortalece a partir de um olhar como setor. “Eu vou representando as cervejarias artesanais, as pequenas indústrias, e tem lá os colegas do Sindicerv e da CervBrasil que vão representando as grandes, e a gente vai junto. Quando a gente se junta, os números são bem mais expressivos. Então, galera, vocês precisam entender que lá em Brasília a gente fala como setor”, diz o presidente da associação.

A BeerWeek vai até amanhã, dia 2! Não perde os conteúdos exclusivos que estamos produzindo.

Bárbara Siementkowski

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